Nem sempre o candidato mais votado pelo povo é eleito presidente; entenda o sistema eleitoral americano
05/11/2024
País usa sistema de voto indireto, em que a escolha é feita pelos delegados do Colégio Eleitoral. Em 2000 e 2016, os mais votados pela população não foram eleitos. Delegada de Michigan assina cédula de votação no Colégio Eleitoral do pleito de 2020
Carlos Osorio/Pool via Reuters
Nem sempre o candidato mais votado pela população na eleição presidencial dos Estados Unidos é quem ganha o pleito. O país adota o sistema de voto indireto, em que o Colégio Eleitoral é quem, de fato, escolhe o novo presidente.
Cada um dos 50 estados e o Distrito de Colúmbia (onde fica a capital federal, Washington) tem um número de delegados no Colégio Eleitoral, que é relativo à quantidade de habitantes. Ou seja, quanto mais populoso um estado, mais delegados terá.
Ao todo, são 538 delegados e, para ser eleito, o candidato vencedor precisa conseguir o voto de pelo menos 270.
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Isso não significa que o voto popular, vindo dos eleitores, não tenha importância. Os delegados vão tomar suas decisões com base nos resultados da votação desta terça, 5 de novembro. Alguns estados fazem a votação antecipada por correio ou presencial, entre eles, a Geórgia.
👉 Em geral, o Colégio Eleitoral tende a refletir o resultado das urnas e elege o mesmo candidato votado pelo povo. No entanto, nem sempre isso acontece.
Na história recente, dois candidatos foram os mais votados pelo povo, mas acabaram derrotados no Colégio Eleitoral: Al Gore, em 2000, e Hillary Clinton, em 2016.
Além disso, tem vantagem o candidato que vencer nos estados que possuem o maior número de delegados, uma vez que o mais votado em um estado leva todos os delegados da área, mesmo que ganhe por apenas um voto.
Em vigor há mais de 200 anos, o objetivo desse modelo é equilibrar a votação entre os 50 estados norte-americanos.
Nesta reportagem você vai entender:
Por que nem sempre quem "ganha" leva?
Quantos delegados tem cada estado?
Como surgiu o Colégio Eleitoral?
Os delegados são obrigados a votar?
O que acontece se não houver maioria?
1. Por que nem sempre quem 'ganha' leva?
No sistema do Colégio Eleitoral, o candidato que for o mais votado pela população de um estado leva todos os delegados daquele estado. Isso vale mesmo que ele vença por apenas um voto de diferença.
Desta forma, pode acontecer que um candidato tenha a maioria dos votos populares a partir do ponto de vista nacional. Mas, na soma dos votos do Colégio Eleitoral, seja derrotado.
Em 2016, por exemplo, a então candidata democrata Hillary Clinton teve quase 3 milhões de votos a mais do que o republicano Donald Trump na soma nacional. No entanto, ela conquistou apenas 232 delegados, enquanto Trump teve 306.
Isso aconteceu porque Hillary venceu com ampla vantagem em estados populosos, como a Califórnia e Nova York. Já Trump venceu em estados-chave por uma margem de votos pequena.
No entanto, como o mais votado de um estado leva todos os delegados da região, Trump se saiu melhor.
Hillary Clinton e Donald Trump se enfrentaram na eleição presidencial de 2016
Rick Wilking/Reuters
Já em 2000, o democrata Al Gore teve 500 mil votos a mais que o republicano George W. Bush somando os votos populares no âmbito nacional. No entanto, ele conquistou 266 delegados, enquanto Bush teve 271.
Neste caso, o que pesou foi a votação extremamente acirrada na Flórida. Bush venceu no estado com uma vantagem pequena, de cerca de 500 votos.
Naquele ano, alguns condados da Flórida usaram um tipo de cédula chamada borboleta. Esse modelo tinha uma diagramação confusa, que fez com que alguns eleitores votassem no candidato errado.
O Partido Democrata entrou com uma ação na Suprema Corte exigindo uma recontagem dos votos. No entanto, os juízes decidiram que o resultado deveria permanecer como estava.
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2. Quantos delegados tem cada estado?
Atualmente, o Colégio Eleitoral dos Estados Unidos é composto por 538 delegados. Cada estado possui um número de representantes diferente, que varia de acordo com o tamanho da população e do número de parlamentares na Câmara e no Senado.
Resumidamente, estados mais populosos tendem a ter mais delegados. Já os menores não têm um peso tão grande, mas ainda podem ser decisivos.
Confira o número de delegados por estado no mapa abaixo:
Além dos estados que aparecem no mapa, o Colégio Eleitoral tem outros 3 delegados que representam o Distrito de Colúmbia.
Já em relação aos estados de Nebraska e Maine, ambos possuem um sistema diferente de delegados:
No caso de Nebraska, são três distritos — cada um com 1 delegado. Além disso, o estado tem dois delegados adicionais que representam a escolha do voto popular em toda a área. Sendo assim, o estado tem um total de 5 delegados.
Já no Maine existem dois distritos, com um delegado cada. Outros dois delegados são escolhidos com base na votação popular do estado todo. Desta forma, o Maine tem um total de 4 delegados.
3. Os delegados são obrigados a seguir o voto popular?
Em muitos estados, os delegados que representam aquela região são obrigados a votar no Colégio Eleitoral de acordo com o resultado da votação popular. Enquanto isso, outras regiões não possuem uma obrigatoriedade expressa.
O papel do Colégio Eleitoral, que se reúne só dezembro para votar, é, em tese, apenas para confirmar o resultado das urnas de novembro.
No passado, porém, alguns delegados se recusaram a seguir o voto popular e escolheram um candidato diferente do que havia vencido no estado. Esses delegados são chamados de "infiéis".
Ainda assim, um movimento do tipo é muito raro e dificilmente alteraria o resultado final da eleição.
4. O que acontece se não houver maioria?
Existe a possibilidade de que nenhum candidato conquiste a maioria dos 538 delegados. Atualmente, esse cenário é praticamente improvável, mas não impossível. Há uma pequena chance de que Kamala Harris e Donald Trump terminem as eleições com 269 delegados cada.
Nesse caso, seria acionada a 12ª Emenda da Constituição, e a eleição seria decidida pela Câmara dos Representantes. Neste cenário, cada estado teria direito a um voto, independentemente do tamanho.
Ao fim, o candidato que tivesse a maioria dos votos na Câmara seria eleito. Enquanto isso, o Senado seria responsável por eleger o vice-presidente.
Como os Estados Unidos possuem 50 estados, ainda haveria hipótese de um novo empate em relação aos votos dos deputados. Neste cenário, as negociações e votações continuariam até o fim do impasse. Um presidente interino poderia ser nomeado caso a situação não fosse resolvida até o dia marcado para a posse.
Essa situação aconteceu apenas em 1824, quando nenhum dos quatro candidatos que disputou as eleições conquistou a maioria absoluta dos delegados.
5. Como surgiu o Colégio Eleitoral?
O sistema do Colégio Eleitoral surgiu ainda no século 18, quando a Constituição dos Estados Unidos estava em elaboração. Naquele momento, o país ainda estava sendo povoado em algumas áreas, enquanto outras localidades eram mais desenvolvidas.
Diante de um território tão grande e dos desafios da comunicação da época, fazer uma eleição nacional com voto popular seria praticamente impossível. Escolher um presidente apenas com base na opinião de autoridades que estavam na capital também estava fora do baralho.
Com isso, surgiu o Colégio Eleitoral. Delegados foram nomeados em cada estado para formar uma eleição representativa, que atendesse aos interesses de cada região do país.
Esse foi um modo de equilibrar o processo, garantindo que diferentes perspectivas e necessidades fossem consideradas. Os estados menores, por exemplo, ganharam poder de voz e certa igualdade frente aos maiores.
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arte/g1
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