Entenda como os 'swing states' podem decidir a eleição presidencial nos Estados Unidos
05/11/2024
Analistas têm dito que os estados de Wisconsin, Michigan e Pensilvânia vão ser os mais importantes para decidir quem vai ocupar a Casa Branca a partir de 2025. Entenda como funciona o sistema eleitoral nos EUA e por que cada estado tem peso diferente
Não é por acaso que a candidata Kamala Harris esteve na Pensilvânia na véspera de eleição. Analistas têm dito que os estados de Wisconsin, Michigan e Pensilvânia vão ser os mais importantes para decidir quem vai ocupar a Casa Branca a partir de 2025. E isso é por causa de uma particularidade do sistema eleitoral americano.
Nos Estados Unidos, cada estado da federação tem um certo número de representantes em uma instituição chamada Colégio Eleitoral. Esse número de representantes de cada estado é proporcional ao número de eleitores que ele tem. No sistema de Colégio Eleitoral, são esses representantes que determinam quem vai ser o presidente. O candidato mais votado pelos eleitores da Califórnia, por exemplo, passa a ter direito a todos os votos dos 54 representantes da Califórnia.
Colégio Eleitoral nos EUA: número de votos
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Se a vitória for na capital, Washington, que é uma espécie de Distrito Federal americano, e tem três representantes, o candidato a morador da Casa Branca leva os três votos. E não importa se a vitória foi folgada ou se foi apertada. Com exceção dos estados do Maine e de Nebraska, ganhou no estado, leva todos os votos dos representantes.
É estranho, mesmo. Quem reconhece isso é o professor de Ciência Política David Schultz, da Universidade de Hamline, de Minnesota.
"Somos muito estranhos porque, na prática, são 50 eleições separadas”, diz David Schultz.
Ou seja: cada estado contribui para o resultado final com um peso proporcional ao tamanho da população. Estados mais populosos têm mais representantes no Colégio Eleitoral, e isso vale um número maior de votos para o vencedor daquele estado. O Colégio Eleitoral tem um total de 538 representantes estaduais, os chamados delegados.
"O número mais importante do qual você tem que se lembrar é 270. São necessários 270 votos para ganhar a presidência. Nós sabemos que em 44, 45 estados americanos, mais ou menos, dá para saber com até dois anos de antecedência se são mais democratas ou republicanos. Mas nenhum dos candidatos tem garantidos, com esses estados, os 270 votos. Por isso, os estados que sobram são chamados de 'swing states'. São eles que detêm o poder de determinar quem vai chegar aos 270 votos", afirma David Schultz.
Em 2024, as pesquisas indicam que sete estados têm situação indefinida
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Em 2024, as pesquisas indicam que sete estados têm situação indefinida e, por isso, vão ser decisivos para fechar a conta do vencedor: Nevada, Arizona, Geórgia, Carolina do Norte, Wisconsin, Michigan e Pensilvânia. Os sete estados somam 93 delegados.
Wisconsin (10), Michigan (15) e Pensilvânia (19) formam o antigo Cinturão do Aço, por causa da instalação de fábricas na região durante a Revolução Industrial - no fim do século XIX e início do XX. Mas essa área passou a ser chamada de Cinturão da Ferrugem por causa do declínio econômico das décadas de 1970 e 1980, com o fechamento de negócios que não resistiram à competição internacional. O eleitorado ali é formado principalmente por trabalhadores insatisfeitos com a falta de perspectivas e de retorno financeiro.
Já os estados de Nevada (6), Arizona (11), Geórgia (16) e Carolina do Norte (16) compõem o Cinturão do Sol. O nome é porque em todos o clima é mais quente. Nessa região, o foco dos candidatos se concentra muito no eleitorado latino e no negro. Eles também podem decidir essa eleição. E é impossível prever de que forma.
No domingo, dia 27 de outubro, um apoiador de Donald Trump chamou Porto Rico de "ilha de lixo" e gerou expectativas sobre a possível reação dos latinos.
Também não dá para prever quais fatos vão pesar mais na decisão de eleitores negros. O vice na chapa da democrata Kamala Harris, Tim Walz, era o governador de Minnesota quando um policial de lá sufocou George Floyd até a morte.
Eleição nos Estados Unidos
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Mas o então presidente Donald Trump protagonizou uma cena histórica depois que forças policiais dispersaram com bombas de gás manifestantes que protestavam pacificamente em frente à Casa Branca. Ele, então, atravessou a Avenida Pensilvânia a pé e posou para fotos na frente da Igreja de São João exibindo uma Bíblia.
E como será que esses fato vão ecoar em 2024? Quatro anos atrás, Joe Biden - enfrentando o mesmo Donald Trump - conseguiu 92% dos votos do eleitorado negro. Mas as pesquisas de intenção de voto de 2024 mostram que Kamala Harris não está conseguindo repetir esse mesmo desempenho. Será porque ela é mulher? Seria machismo? Será que esses eleitores, dessa vez, estão mais inclinados à direita? E como explicar que alguns estados deixem de ter aquela maioria expressiva de algum partido e se transformem, de uma eleição para a outra, em swing states?
"Se pensarmos por que os estados mudam ao longo do tempo, eu diria que é por causa da mudança populacional. Mas eu não quero dizer que a demografia é o destino. A demografia é uma possibilidade. E as mudanças demográficas são muito, muito importantes para explicar por que alguns estados oscilam em certos períodos, mas também deixam de ser estados que oscilam e se tornam estados garantidos de um partido”, afirma David Schultz.
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